Use este identificador para citar ou linkar para este item: https://ri.ufs.br/jspui/handle/riufs/21435
Tipo de Documento: Tese
Título: Veneno anti-homofobia: poesia e homoerotismo masculino
Autor(es): Farias, Cássio Augusto Nascimento
Data do documento: 29-Ago-2024
Orientador: Santos, Josalba Fabiana dos
Resumo: Em 1990, a Organização Mundial de Saúde retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças. No Brasil, em 1999, o Conselho Federal de Psicologia, além de considerar a homossexualidade uma variante legítima da sexualidade, proibiu que os psicólogos fizessem qualquer esforço para “corrigir” a orientação sexual dos seus pacientes. Contudo, o regime cultural heterocentrado ainda perpetua discursos e práticas patologizantes, criando a ilusão de que somente a heterossexualidade reprodutora seria “natural”, “normal” e “saudável”. Diante desse contexto, o presente trabalho surge com a proposta de estudar a poesia brasileira contemporânea tendo como foco os escritores do Nordeste que fazem uso metafórico da doença e da cura em poemas que tematizam o homoerotismo masculino. Busca-se, como objetivo, averiguar de que modo os poetas “re-descrevem” o amor entre homens, perturbando e transformando a ordem vigente. Pretende-se mapear e analisar poemas publicados a partir da década de 1970 até os dias de hoje, tomando como ponto de partida Falo, livro de Paulo Augusto, lançado em 1976. Além do poeta potiguar, foram encontrados e estudados os seguintes autores: Paulo Azevedo Chaves (1988, 2012, 2014); Marcelino Freire (2002, 2018); Rui Mascarenhas (2007, 2011); Raimundo de Moraes e seu heterônimo Aymmar Rodriguéz (2010, 2014, 2015, 2023); Araripe Coutinho (2013); Amarildo Felix (2013, 2021); Assuero Cardoso Barbosa (2014); João Gomes (2018); Marcio Junqueira (2018) e Guilherme Ramos (2018). Assumindo uma abordagem interdisciplinar, partimos de reflexões de diferentes áreas do conhecimento, considerando os estudos da teoria da literatura e da poesia, da filosofia, da história, da sociologia, entre outros, para ponderarmos sobre o poema e a sua dialética espelho/resistência da/à ideologia; a doença, a cura e suas metáforas; as tentativas de patologização e despatologização das sexualidades e dos gêneros dissidentes; o HIV, a aids e suas representações na literatura brasileira; além de discussões acerca de aspectos pertinentes para a investigação dos versos aqui analisados, como a ironia, a paródia, a metalinguagem, a poesia lírica e os demais gêneros literários, o erotismo, a descrição, a leitura e o discurso pornográfico. Em síntese, foi possível observar que os poetas averiguados nesta tese colocam em tensão o regime heteronormativo à medida que desmascaram a sexualidade como um artefato social, regulada e punida cotidianamente, além de inverterem as fantasias da ordem social vigente, apresentando a heterossexualidade compulsória como um corpo enfermo ou um mal que adoece. Considerando o conceito de phármakon, de Derrida (2005), notou-se ainda que o amor entre homens assume sentidos ambivalentes: ora é remédio, saudável, normal e fértil; ora é veneno cujo efeito é benéfico. Nesse último caso, o homoerotismo masculino é, por um lado, acometido pelos “males” da poesia lírica, como o amor, o erotismo e a solidão, afirmando tanto a igualdade quanto a diferença do homem gay em relação aos demais; por outro lado, é um veneno anti-homofobia, sendo a própria experiência de escrita e leitura entendida como um phármakon. Assim, os escritores do Nordeste, vozes da multifacetada literatura brasileira contemporânea, imaginam sociedades, poéticas e formas de existir e desejar distintas (e passageiras) daquelas inventadas pelo discurso dominante.
Abstract: In 1990, the World Health Organization removed homosexuality from the International Classification of Diseases. In Brazil, in 1999, the Federal Council of Psychology, besides considering homosexuality a legitimate variant of sexuality, prohibited psychologists from making any effort to “change” the sexual orientation of their patients. However, the heterocentric cultural regime still perpetuates pathologizing discourses and practices, creating the illusion that only reproductive heterosexuality is “natural”, “normal”, and “healthy”. In this context, the present work proposes to study contemporary Brazilian poetry, focusing on writers from the Northeast who metaphorically use disease and cure in poems that address male homoeroticism. The objective is to investigate how poets “re-describe” love between men, disturbing and transforming the prevailing order. The aim is to map and analyze poems published from the 1970s to the present day, starting with Falo, a book by Paulo Augusto, released in 1976. Besides the poet from Rio Grande do Norte, the following authors were found and studied: Paulo Azevedo Chaves (1988, 2012, 2014); Marcelino Freire (2002, 2018); Rui Mascarenhas (2007, 2011); Raimundo de Moraes and his heteronym Aymmar Rodriguéz (2010, 2014, 2015, 2023); Araripe Coutinho (2013); Amarildo Felix (2013, 2021); Assuero Cardoso Barbosa (2014); João Gomes (2018); Marcio Junqueira (2018); and Guilherme Ramos (2018). Assuming an interdisciplinary approach, we will draw from reflections from different fields of knowledge, considering studies in literary theory and poetry, philosophy, history, sociology, among others, to ponder the poem and its dialectic of mirror/resistance to ideology; ilness, cure, and their metaphors; the attempts at pathologizing and depathologizing dissident sexualities and genders; HIV, aids, and their representations in Brazilian literature; and discussions on relevant aspects for the investigation of the verses analyzed here, such as irony, parody, metalanguage, lyric poetry, and other literary genres, eroticism, description, reading, and pornographic discourse. In summary, it was observed that the poets examined in this thesis put the heteronormative regime in tension, as they expose sexuality as a social artifact, regulated and punished daily, and invert the fantasies of the prevailing social order, presenting compulsory heterosexuality as a sick body or a disease. Considering Derrida's (2005) concept of pharmakon, it was also noted that love between men assumes ambivalent meanings: sometimes it is a remedy, healthy, normal, and fertile; other times it is a poison whose effect is beneficial. In the latter case, male homoeroticism is, on the one hand, afflicted by the “illness” of lyric poetry, such as love, eroticism, and solitude, affirming both the equality and the difference of the gay man in relation to others; on the other hand, it is an anti-homophobia poison, with the very experience of writing and reading understood as a pharmakon. Thus, the writers from the Northeast, voices of multifaceted contemporary Brazilian literature, imagine societies, poetics, and ways of existing and desiring that are different (and transient) from those invented by the dominant discourse.
Palavras-chave: Literatura contemporânea
Poesia brasileira
Homossexualidade masculina
Phármakon
Contemporary literature
Brazilian poetry
Male homosexuality
área CNPQ: LINGUISTICA, LETRAS E ARTES::LETRAS
Idioma: por
Programa de Pós-graduação: Pós-Graduação em Letras
Citação: FARIAS, Cássio Augusto Nascimento. Veneno anti-homofobia: poesia e homoerotismo masculino. 2024. 264 f. Tese (Doutorado em Letras)- Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2024.
URI: https://ri.ufs.br/jspui/handle/riufs/21435
Aparece nas coleções:Doutorado em Letras

Arquivos associados a este item:
Arquivo Descrição TamanhoFormato 
CASSIO_AUGUSTO_NASCIMENTO_FARIAS.pdf2,32 MBAdobe PDFThumbnail
Visualizar/Abrir


Os itens no repositório estão protegidos por copyright, com todos os direitos reservados, salvo quando é indicado o contrário.