Use este identificador para citar ou linkar para este item: https://ri.ufs.br/jspui/handle/riufs/21515
Tipo de Documento: Tese
Título: Mas você não tem cara de autista: relato autobiográfico, diagnóstico tardio e campo dêitico
Autor(es): Castro, Lorena Gomes Freitas de
Data do documento: 28-Ago-2023
Orientador: Lima, Geralda de Oliveira Santos
Resumo: Este trabalho propõe um deslocamento da perspectiva neurotípica tanto na compreensão, quanto na escrita acadêmica, trazendo à luz relatos de autistas após diagnóstico tardio, em prol da subjetividade neurodivergente (BENEDETTO, 2020; ORTEGA, 2008). Nossa pesquisa está alinhada a uma perspectiva sociocognitivo-interacional da linguagem de caráter funcionalista dos estudos, uma vez que pressupõe a língua em interação, em funcionamento e em decorrência de princípios os quais possam exercer sobre ela alterações significativas de efeitos de sentido, a saber, os contextos social, cognitivo, cultural, identitário, dentre outros. A partir do escopo teórico da Linguística Textual na contemporaneidade (KOCH, 2009; MARCUSCHI, 2012; CUSTÓDIO FILHO, 2009; CAVALCANTE; CUSTÓDIO FILHO; BRITO, 2014; CAPISTRANO JÚNIOR; LINS; ELIAS, 2017; LIMA; CASTRO, 2021), analisamos relatos autobiográficos de pessoas autistas que vindas de diagnósticos tardios (entre a adolescência e fase adulta) podem constituir ferramentas discursivas de combate ao preconceito, à opressão, promover o reconhecimento da neurodiversidade e o desenvolvimento dessas identidades (BENEDETTO, 2020; LACERDA, 2017; DONVAN; ZUCKER; 2017; GRANDIN; PANEK, 2021; BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). Para tanto, discutimos o fenômeno da referenciação mediante a (re)elaboração de objetos de discurso (MONDADA; DUBOIS, 2013), os quais apontam para a construção referencial de (id)entidades atípicas, além de um continuum antes-depois diante do contexto desse diagnóstico. Isso quer dizer que essas (id)entidades (re)constroem-se indicando lugares de neurodissidências e considerando, nesse processo, o antes como a ausência desse diagnóstico e o depois como a experiência de acesso ao diagnóstico tardio de TEA. A amostra conta com materiais que foram coletados exclusivamente através de questionário virtual (google forms). Justificamos nosso interesse diante da ausência de maiores conhecimentos a respeito dessa temática. Para isso, temos como objetivo geral analisar o modo como ocorre a (re)construção de (id)entidades atípicas a partir de relatos autobiográficos de autistas adultos com diagnóstico tardio e como específicos: (1) discutir os marcadores sociais contextuais dos participantes através de dados obtidos por meio de formulário digital; (2) identificar e descrever objetos de discurso em relatos, levando em consideração a neurodiversidade e (3) analisar os relatos autobiográficos escritos a partir do uso de processos referenciais e, sobretudo, os do campo dêitico. Para além desses objetivos, defendemos a hipótese de que através de análise referencial desses relatos, confirmamos traços dissidentes, desconstruindo o questionamento capacitista “mas você não tem cara de autista!”. Reiteramos, portanto, que relatos neurodissidentes de autistas com diagnóstico tardio proporcionam o (re)conhecimento da neurodiversidade dessas (id)entidades. Sobre as notas finais atípicas, essas ideias se sustentam também a partir do reconhecimento científico do meu próprio diagnóstico, do meu antes/depois, identificando a dêixis discursiva como prova do capacitismo estrutural. Sinalizamos ainda o poder catártico dos relatos e a importância de uma ética amorosa bellhookiana em prol do letramento anticapacitista.
Abstract: This work proposes a displacement of the neurotypical perspective both in comprehension and in academic writing, bringing to light reports of autistic people after late diagnosis, in favor of neurodivergent subjectivity (BENEDETTO, 2020; ORTEGA, 2008). Our research is aligned with a socio-cognitive-interactional perspective of the functionalist language of the studies, since it presupposes the language in interaction, in functioning and as a result of principles that can exert significant changes in the effects of meaning, namely, the social, cognitive, cultural, identity contexts, among others. From the theoretical scope of Textual Linguistics in contemporary times (KOCH, 2009; MARCUSCHI, 2012; CUSTÓDIO FILHO, 2009; CAVALCANTE; CUSTÓDIO FILHO; BRITO, 2014; CAPISTRANO JÚNIOR; LINS; ELIAS, 2017; LIMA; CASTRO, 2021), autobiographical reports have been analyzed of autistic people who, coming from late diagnoses (between adolescence and adulthood), can constitute discursive tools to combat prejudice and oppression, to promote the recognition of neurodiversity and the development of these identities (BENEDETTO, 2020; LACERDA, 2017; DONVAN; ZUCKER; 2017; GRANDIN; PANEK, 2021; BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). To do so, the phenomenon of referencing through the (re)elaboration of discourse objects is discussed (MONDADA; DUBOIS, 2013), which point to the referential construction of atypical (id)entities, in addition to a before-after continuum in the context of this diagnosis. This means that these (id)entities are (re)constructed, indicating places of neurodissidence and considering, in this process, all there was before as the absence of this diagnosis and that came after as the experience of access to the late diagnosis of ASD. The sample contains materials that were collected exclusively through a virtual questionnaire (google forms). Our interest in the absence of greater knowledge about this topic has been justified. For this, we have to analyze, as a general goal, the way in which the (re)construction of atypical (id)entities occurs from autobiographical reports of autistic adults with late diagnosis, and how specifically: (1) to discuss the contextual social markers of the participants through data obtained through a digital form; (2) to identify and describe discourse objects in reports, taking into account neurodiversity and (3) to analyze autobiographical reports written from the use of referential processes and, above all, those of the deictic field. In addition to these aims, we defend the hypothesis that through the referential analysis of these reports, we confirm dissident traits, deconstructing the ableism questioning “but you don't look like an autist!”. We reiterate, therefore, that neurodissident reports of autistic people with late diagnosis provide the (re)cognition of the neurodiversity of these (id)entities. Regarding the atypical final grades, these ideas are also supported by the scientific recognition of my own diagnosis, of my before/after, identifying the structural ableism. We also point out the cathartic power of the reports and the importance of a bellhookian love ethic in favor of anti-ableist literacy.
Palavras-chave: Autobiografia
Transtorno do Espectro Autista
Diagnóstico
Identidade social
Linguística
Neurociência
Diagnóstico tardio
Relatos autobiográficos
Teoria da referenciação
Campo dêitico
Autistic Spectrum Disorder
Late diagnosis
Autobiographical reports
Referencing theory
Deitic field
Agência de fomento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES
Idioma: por
Sigla da Instituição: Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Programa de Pós-graduação: Pós-Graduação em Letras
Citação: CASTRO, Lorena Gomes Freitas de. Mas você não tem cara de autista: relato autobiográfico, diagnóstico tardio e campo dêitico. 2023. 197 f. Tese (Doutorado em Letras) — Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2023.
URI: https://ri.ufs.br/jspui/handle/riufs/21515
Aparece nas coleções:Doutorado em Letras

Arquivos associados a este item:
Arquivo Descrição TamanhoFormato 
LORENA_GOMES_FREITAS_CASTRO.pdf5,7 MBAdobe PDFThumbnail
Visualizar/Abrir


Os itens no repositório estão protegidos por copyright, com todos os direitos reservados, salvo quando é indicado o contrário.